Cruzando o Paso Libertadores
As fronteiras chilenas foram as mais burocráticas que cruzei pelo caminho. Ao longo da viagem conheci três das portas de entrada e saída do país: O Paso Libertadores entre Argentina-Chile na região central de Santiago; O Paso de Jama entre Bolívia e Chile na região do Atacama e o Paso Chacalluta entre Chile e Peru na região de Arica.
A Cordilheira dos Andes protege todo o país de grande parte das pragas agrícolas que existem em outras regiões da América do Sul, o que faz com que o Chile seja criterioso em suas fronteiras. Todas as malas são realmente fiscalizadas por máquinas de raio x, guardas e cachorros. E todas as pessoas revistadas. O que deveria acontecer na fronteira de qualquer país, mas…
No Paso Libertadores, minha primeira entrada no país, demoramos cerca de três horas para passar pela fronteira, o que atrasou bastante a viagem e fez com que chegássemos aos magníficos caracóis formados pela estrada que cruza os Andes do lado chileno na parte da noite. Uma pena e um motivo para cruzá-lo outra vez. Dizem que é algo impressionante de ser ver.
Chegando a Santiago
A viagem de Mendoza a Santiago que costuma demorar cerca de seis horas, demorou nove e enfim, chegamos a esperada Santiago. Eu ainda não tinha grandes planos para o Chile, queria ver alguns amigos, passar pelo Atacama e quem sabe ir ao Sul. Sabia que o país seria o mais caro da viagem, então não planejava passar muito tempo por lá. Mas, logo o país mostrou que não seria tão fácil deixá-lo.
Lugares para me hospedar não foram problema por lá, fui convidada por dois amigos que conheci em viagens a ficar em suas casas e primeiramente fui recebida pela família de um deles. Recepção mais calorosa e simpática, impossível.
Um repouso inesperado
Eu estava com aquela dorzinha no joelho que começou em Mendoza (que já não era tão dorzinha assim) e, tive que recorrer ao meu seguro viagem pela segunda vez, logo na chegada ao Chile. A visita a uma das melhores clínicas de Santiago (santo seguro!), me rendeu uma recomendação de cinco dias de repouso, dos quais só obedeci dois, além de remédios, compressas de gelo e uso de tensores.
O que parecia ser um azar de viagem se mostrou uma grande oportunidade de conviver de pertinho com uma das família mais queridas que já conheci. Até café da manhã na cama a mãe do meu amigo levou, no almoço escutava histórias de todo o Chile contados pelo pai da família. Provei pisco souer preparado por chileno, mas alá peruana, cervejas típicas do sul do Chile, vinho chileno (se cortou ou não o efeito do anti-inflamatório que eu estava tomando para o joelho, não sei), além de deliciosos pratos típicos, como os Porotos con rienda, um delicioso prato de feijão branco com talharim. Imagina se não fiquei super mal acostumada. Para mim os Gutiérrez se tornaram a minha família chilena, morro de saudades deles e espero vê-los logo.
Conhecendo a cidade pra valer
Mas, havia uma cidade lá fora me esperando e passado os dias de repouso, comecei a explorar Santiago. Apesar de cidade grande, a capital chilena me pareceu organizada e limpa, com problemas que toda cidade grande tem, mas comparado com Buenos Aires, São Paulo, Lima e La Paz, acredito que problemas como trânsito, sujeira e violência se apresentem menores por lá. Isso não é um dado estatístico, é só uma percepção e se você perguntar para um chileno, capaz que descordem de mim. Eles são bem críticos. Um problema grave por lá é a poluição, como a cidade é cercada pela Cordilheira dos Andes, quando não chove a poluição dos carros e fábricas se concentram e formam o chamado smog, uma grossa camada de poluição que deixam os céus de Santiago cinzentos e o ar impróprio.
A vida cultural e noturna da cidade é animada. Os chilenos são bons para o carrete, como eles chamam as festas (carretear é sair para festas/baladas). O bairro mais famoso da noite é o Bairro Bellavista, mas existem outras boas opções para quem gosta de um bom bar para jogar conversa, como a Plaza Ñuñoa, Providencia e Santiago Centro. Em Vitacura estão as baladas mais cuicas, termo utilizado no Chile para classificar o que é de classe alta, mais esnobe. Adoro os chilenismos, por essas e outras que muitos dizem que no Chile se fala chileno e não espanhol.
Meus bares preferidos estão no centro, região mais diversa da cidade. O La Piojera é um dos bares mais tradicionais, dizem que é o monumento aos sentimentos da nação, pois muita gente já riu, chorou e se apaixonou por lá. Merece uma visita. Prove o típico drink chileno preparado em série por lá, o Terremoto, cujos ingredientes são vinho branco, fernet (ou groselha) e sorvete de abacaxi. Acredite quando um chileno te disser para tomar só um. Eu cai na besteira de aceitar a réplica, um copinho menor que geralmente se toma depois do primeiro e ainda provar o Maremoto (mesma receita, mas com licor de menta no lugar do fernet). O resultado foi um tremendo terremoto na minha cabeça no dia seguinte.
Outro bar que entrou na minha listinha de melhores foi o The Clinic, algo diferente de tudo que já vi, um bar digamos político. Bar político? É, prometo explicar direitinho, mas em outro post, porque esse bar rende história.
E não vá pensando que só conheci bares por lá não, nos dez dias que passei na cidade entre idas e vindas (sempre dava um jeitinho de passar por Santiago outra vez), andei muito por suas ruas, praças, parques, cerros, museus, centro culturais. Destaco as visitas ao Cerro Santa Lucía no coração da cidade; o Centro Cultural Gabriela Mistral, um complexo cultural gigantesco, com exposições, teatro, música, biblioteca; e o Museu da Memória e dos Direitos Humanos que relembra histórias da ditadura militar no Chile e na América Latina, o museu está super bem montado e interativo, vale a visita pelo assunto e pela estrutura.
Ai, tanta coisa pra falar de Santiago, fica difícil resumir em um post. Nem preciso dizer que depois de ser conquistada pela cidade não consegui evitar conhecer mais do Chile do que o planejado.
E lá fui eu para as frias e maravilhosas regiões do rios e do lagos no sul do Chile, visitar vulcões inativos e ativos, alimentar lobos marinhos, comer deliciosos pratos de salmão, visitar cervejarias e namorar o rio Calle Calle. Se animou? Então, não perde os próximos posts da série Mochilão América do Sul, toda quarta-feira aqui no Levo na Mochila ;)
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Confere o post anterior de série aqui: A Mendoza com segundas intenções
Fotos por Danyelle Fioravanti e Rodrigo Gutiérrez